Qual foi a cena que evitou o fracasso do Pearl Jam?
O ano era 1991.
Em 27 de agosto a banda lançaria seu primeiro álbum: Ten
O álbum que foi 13 vezes Platina teve uma estréia muito tímida.
Todo o futuro do Pearl Jam poderia ser posto em cheque.
O que mudou?
Um breve flashback.
Cena #01: Wood.
No ano anterior (1990), em Seattle, o Mother Love Bone, uma das bandas que era a principal aposta da crítica, dos músicos e do público locais sofreu uma perda irreparável:
O carismático vocalista Andrew Wood, tem uma overdose de heroína.
O principal compositor da banda morre dias antes do que seria o lançamento do álbum de estreia.
Cena #02: O Templo.
Após a morte de Wood, seu amigo e ex-colega de quarto, Chris Cornell, do Soundgarden, resolve fazer um disco em sua homenagem.
Além do baterista Matt Cameron, parceiro de Soundgarden, convida dois dos parceiros de Wood, Jeff Ament e Stone Gossard, baixista e guitarrista do Mother Love Bone, respectivamente e outro guitarrista Mike McReady, amigo de ambos.
Além deles, Chris chama um rapaz de San Diego (o qual apadrinhava e morava em sua casa), Eddie Vedder para fazer alguns vocais de apoio e um dueto em Hunger Strike.
Nasce o Temple of Dog. Que teria o álbum homônimo lançado em abril de 1991.
Cena #03: Mookie Blaylock.
Mais ou menos ao mesmo tempo, a banda de Seattle Mookie Blaylock fechava sua formação.
Ament, Gossard e McReady recebem Eddie Vedder e o baterista Dave Krusen.
Após audições e uma semana de ensaios seguem em busca de um contrato.
Com as demos fechadas, a banda (com o nome de um jogador de basquete), assinaria com a Epic Records antes de mudar de nome para Pearl Jam.
Cena #04: Nirvana.
Kris Novoselic e Kurt Cobain, já tinham gravado um Álbum com o Nirvana.
“Bleach” havia sido lançado em junho de 89.
Em abril de 1990, o Nirvana contrata Butch Vig para produzir seu próximo álbum. Em setembro, admitem um novo baterista: Dave Grohl.
A Virada
Cena.
É disso que estamos tratando aqui.
Eu poderia dizer que o Alice in Chains lançaria seu primeiro álbum, Facelift, ainda em agosto de 1990.
Ou que o Mudhoney tinha lançado seu primeiro disco no ano anterior, 1989;
Ou que a Blind Melon estava sendo formada no mesmo ano, 1990;
Ou ainda falar da importância e da atuação do fanzine (e posterior selo) Sub Pop;
Podia falar até mesmo que as bandas estavam bem longe de serem parecidas como a indústria fonográfica costumava anunciar.
O que quero dizer é que havia uma cena.
As pessoas se conheciam e estavam todas trabalhando e cooperando.
Um sucesso mundial como se deu, não era esperado por ninguém, mas um lançamento botou o Pearl Jam e toda essa leva de músicos de Seattle no mapa da indústria fonográfica e do público:
Nevermind, do Nirvana
Kurt adequava suas composições com coisas que ouvia à época.
Músicas com um pouco menos de influência punk, mais palatáveis para o grande público.
A gravadora esperava uma venda de aproximadamente 250.000 discos (sucesso absoluto pra um estilo ainda underground).
Esse número havia sido atingido pelo último lançamento do Sonic Youth até então, o álbum Goo, também de 1990, e era pelo qual se baseavam.
O Nevermind, lançado em setembro de 1991, foi avassalador.
O video de Smell Like Teen Spirit entrou na MTV num lançamento mundial (o que nunca havia ocorrido na emissora, para uma banda desconhecida.)
No ano seguinte ao seu lançamento, desbancou Dangerous do Michael Jackson do topo das paradas da Billboard e com isso toda a cena foi iluminada pelos holofotes do mundo inteiro.
De Volta ao Pearl Jam
O Ten, do Pearl Jam passou a disco de ouro na segunda metade de 1992, ultrapassando as vendas do próprio Nevermind.
É incrível pensar que isso talvez não fosse possível sem o lançamento do Nirvana.
Temos diversos casos onde a cena foi fator crucial. Ora pra chegar ao sucesso, ora pra elevar a um patamar mais alto.
A Invasão Britânica, O punk londrino, a “New Wave of Britsh Heavy Metal”, o Clube da Esquina, a Tropicália, etc. e um post do Kiko aqui no blog sobre isso
Vale o exercício:
– em qual cena você consegue se encaixar? Quem são os artistas à sua volta que, mesmo não tendo exatamente o mesmo tipo de som e de público, possam dividir eventos e colaborar?
– Embora se manter próximos seja crucial para uma boa logística de shows, com a internet conseguimos nos posicionar em cenas que independem de sua localização geográfica.
– As “collabs” e “featurings” do Youtube e plataformas de streaming são, em parte, a criação de uma cena em território virtual.
As coisas nunca foram tão claras.
Está tudo à mão.
Forte abraço.
F.F.>>