04 de fevereiro.
Me disseram que foi o dia em que nasci.
Não me lembro do ocorrido.
Nunca fui de me importar muito com a data. Pra mim era um dia como outro qualquer.
Adiciono a isso a dificuldade de receber as felicitações (que só quem é extremamente tímido consegue entender).
Acontece que ultimamente tenho tentado pensar em alguns aspectos da minha vida durante a data. Meio parecido com o que se faz no Ano Novo, sabe?
Hoje dirigi quase que o dia inteiro. Cerca de 700km de chão pelas Minas Gerais.
Num certo ponto da viagem, comecei a prestar atenção em alguns detalhes.
Enquanto mantinha o foco na estrada e nos carros ao redor, fazia correlações entre a experiência que a jornada me proporcionava e questões de vida e de carreira.
Parece meio louco?
Me deixe tentar explicar:
Estrada: da Partida à Chegada
Tudo começa bem antes da viagem. Aliás, antes da decisão de viajar.
Na verdade a viagem começa com a consciência.
Explico: Decidir ir pra algum lugar implica na tomada de consciência de onde você está.
Parece óbvio, mas talvez esteja aí a diferença entre uma vontade simples, um sonho, pra uma tomada de decisão.
Ao planejar você leva em consideração onde está, pra onde quer ir e quais caminhos deve percorrer e como deve percorrê-los.
Já enquanto sonha, você apenas pensa no destino e que gostaria de chegar até lá.
Após o planejamento você sabe que distância vai ter que percorrer, qual é o caminho mais curto, qual o mais rápido (nem sempre o mais curto é o mais rápido), qual o mais seguro e até estimar de quanto tempo precisará para realizar o percurso.
Assim você consegue estabelecer parâmetros pra, que durante a viagem, possa mensurar se está tudo certo, se está indo como o esperado, se precisa andar mais rápido ou o contrário, se pode fazer mais paradas e admirar alguma paisagem pelo caminho.
Tome consciência. Planeje. Mensure. Seu objetivo é sua linha de chegada e está logo à frente.
Você pode ter várias viagens na sua vida/carreira.
Na maioria das vezes fica difícil fazer mais de uma ao mesmo tempo.
Aperte os cintos. Escolha a melhor playlist e pé na estrada.
Vidros, Espelhos e Proporções
Enquanto me preocupava em ultrapassar um caminhão na estrada, me dei conta da proporção entre o tamanho do para-brisa e dos retrovisores.
Fiquei pensando na relação entre importância e tamanho das coisas.
O para-brisa, que é o vidro através do qual olhamos pra frente, ocupa a maior parte do campo de visão. É onde está o foco durante a maior parte do tempo.
Enquanto isso, os retrovisores, que são os espelhos pelos quais olhamos pra trás, estão ali para serem conferidos em momentos específicos. Esporadicamente. Mesmo estando ali o tempo inteiro, ficam praticamente fora de foco na maior parte do período.
Sendo você o condutor, vez ou outra vai precisar olhar pra trás.
Seja pra perceber o que já percorreu, seja pra se assegurar de ultrapassar um obstáculo em segurança ou pra se certificar que nada do que ficou pra trás está vindo em sua direção;
Mas não é aí que deve estar seu foco, ok?
Após saber para onde vai, dificilmente alguém vai ter a “brilhante” ideia de ir de ré.
Sendo assim, olhe pra frente e mantenha o foco no caminho. Tanto quanto puder.
Viajantes
Conheço viajantes de vários tipos. Uns ansiosos com a viagem, a ponto de mal conseguirem dormir na véspera, outros que dormem em berço esplêndido, inclusive durante a viagem inteira.
Alguns ficam enjoados durante o trajeto, outros adoram a janela aberta e o vento no rosto. Quase como um labrador brincalhão.
Independente do tipo de viajante, nesse carro chamado Vida, modelo Carreira, ou você é quem conduz ou é um passageiro.
Dependendo da viagem, você pode estar em uma posição ou em outra.
Tente ter isso em mente, em cada viagem.
Aliás, não é tão simples.
Muita gente afirmaria que é ou que quer ser o condutor.
Condução ou Carona?
Ser o condutor parece glamouroso. Uma posição de destaque, cheia de vantagens.
Como o fato de não me lembrar de um condutor que tenha sofrido de cinematose (enjoo com o movimento do veículo).
Ou do condutor ter maior poder de decisão sobre o trajeto, sobre a velocidade com que se anda, ou ainda receber louros e gratidão por chegar bem ao destino.
Conduzir implica em abastecer, conferir itens de segurança, planejar o percurso.
Te faz trabalhar na viagem bem antes de ela começar e mais ainda durante o trajeto.
Tem certeza que é isso que você quer? Se for, faça pra valer, com a consciência do que isso significa.
Na outra mão, temos os passageiros (ou caronas).
Você pode ser aquele sentado lá atrás, que só dorme ou o que reclama de tudo. Pode ser como uma criança, que toda hora quer saber se já chegou, ou;
Pode se sentar ao lado do motorista, ajudar com os mapas, prestar atenção à estrada, placas e contribuir pra que a viagem seja tão boa quanto possível, que o caminho planejado esteja correto e que o destino seja alcançado.
Ao ser um passageiro, de que tipo você é?
The Wall: Batendo de Frente com o Muro
Não. Não vou falar sobre a obra do Pink Floyd hoje. Tampouco sobre acidentes de trânsito.
Tem um momento em viagens longas em que você cansa.
É importante se alimentar bem, ter descansado e se preparado pra viagem, mas cansa. Não tem jeito.
Tem um momento em que você pensa: “Porque não fiquei em casa vendo um filme?”
Os termos “Wall” ou “Paredão” são usados por corredores. É o momento da corrida onde a baixa da reserva de glicogênio te faz querer desistir. Parece que simplesmente você não vai mais suportar, mas quando passa por isso, seu corpo se adapta e você consegue continuar seguindo em frente.
O Kiko tem um texto sobre um fenômeno parecido aqui no blog, usando uma citação de Churchill.
Esse momento vai chegar, mais cedo ou mais tarde. Se prepare psicologicamente pra isso.
A maioria das coisas importantes que fiz envolveram essa sensação de fadiga, onde qualquer dúvida ou medo são exponenciados.
Viaje em segurança. Faça uma parada extra, se precisar. Descanse um pouco e saiba que isso vai passar.
O muro vai estar lá. Você já sabe. É só contorná-lo.
E lembre-se: seu destino está logo à frente.
A Chegada
Cheguei bem, obrigado.
Já pensando nas próximas viagens que terei.
Mesmo cansado, estou feliz por ter completado o percurso.
Também estou feliz por completar mais um ano e, ao mesmo tempo, poder planejar as viagens desse novo ciclo pessoal que se inicia.
Ainda não dou tanta importância à data, mas tento usá-la como mensuração. Já disse isso, né?
Se não tive festa? Até tive. Antecipada. Estive com pessoas que tenho muito carinho e vejo menos do que gostaria.
Esse não é o ponto. Tento ser grato e aproveitar a cada dia, não apenas ao apagar as velas.
~É carpe diem que fala, né?~
A vida é a maior viagem.
Aproveite a sua.
Forte abraço.